Nos dias 22 e 23 de maio, a Intertechne participou do 1º Simpósio Brasileiro de Autocicatrização do Concreto, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O evento marcou um importante avanço para a engenharia civil no Brasil, reunindo, pela primeira vez, representantes da academia, da indústria e profissionais do setor para discutir uma das inovações mais promissoras em engenharia de materiais: o Concreto Autocicatrizante.
A autocicatrização do concreto é a capacidade desse material de selar e reparar fissuras de forma natural ou com o auxílio de aditivos, restaurando suas propriedades mecânicas e de estanqueidade. Esse processo pode ocorrer de forma autógena — pela hidratação continuada da matriz cimentícia — ou ser induzido pela adição de agentes específicos, como aditivos cristalizantes, cápsulas com agentes de cura e até bactérias, capazes de preencher trincas de maneira inteligente e autônoma.
Essa tecnologia representa um salto em durabilidade, permitindo a reparação de danos sem intervenção humana, reduzindo custos com manutenção, prevenindo o avanço de patologias e aumentando a vida útil das construções. Em um cenário cada vez mais voltado à sustentabilidade e eficiência, o concreto autocicatrizante desponta como uma solução inteligente e resiliente para ampliar a confiabilidade das obras.
A engenheira Rafaela Eckhardt, da Penetron, apresentou um estudo de caso aplicando aditivos autocicatrizantes na proteção das estruturas enterradas da casa de força de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), constantemente expostas à umidade do solo. O objetivo era garantir a estanqueidade e prolongar a vida útil da estrutura, protegendo os equipamentos elétricos e reduzindo necessidades de manutenção. Corpos de prova foram moldados na obra e submetidos a ensaios em campo com carga d’água contínua, simulando as condições reais. Os resultados foram positivos, confirmando a eficácia dos tratamentos autocicatrizantes na redução do fluxo de água e validando sua aplicação prática.
Entre as abordagens mais inovadoras, destaca-se o uso da bactéria Bacillus subtilis, imobilizada em cápsulas de alginato, que reage com a presença de água e cálcio para fechar microfissuras. Essa solução reduz a necessidade de reparos externos e favorece a durabilidade estrutural de maneira ecológica.
O professor Dr. Paulo José Melaragno Monteiro trouxe uma provocação instigante: “Autocicatrização do concreto romano — uma dosagem racional ou um feliz acidente?”. O concreto romano, utilizado há mais de dois mil anos, é notório por sua impressionante durabilidade, mesmo em ambientes agressivos como zonas sísmicas e ambientes marinhos. Pesquisas recentes revelaram que essa resistência está ligada à sua capacidade de autocura: minerais de cal reagem com a água das fissuras, formando carbonato de cálcio e selando as trincas de forma natural. Esse fenômeno é atribuído ao método tradicional de fabricação, no qual a cal virgem é misturada com cinzas vulcânicas e agregados antes da adição de água. Para ilustrar essa incrível tecnologia ancestral, o professor trouxe uma amostra original do concreto romano, enriquecendo ainda mais a discussão. Esse conhecimento milenar hoje inspira o desenvolvimento de materiais mais duráveis e sustentáveis.
Participar do simpósio foi uma oportunidade única para conhecer pesquisas de ponta, trocar experiências com especialistas internacionais e reforçar nosso compromisso com soluções inovadoras que agregam valor técnico, econômico e ambiental aos nossos projetos. Parabenizamos os organizadores pela iniciativa e seguimos motivados a contribuir com o avanço da engenharia brasileira.
Legenda foto: Da esq. para dir. os engenheiros civis Fernanda Gabriela Goulart Leques, Anderson Flores e Eric Willian Vieira Pena.
Texto: Anderson Flores – Engenheiro Civil e líder de equipe na Unidade de Óleo e Gás, e Fernanda Gabriela Goulart Leques – Engenheira Civil e Supervisora da Área de Estruturas